A exposição fotográfica “Mães pela Igualdade” começou no final da tarde desta quarta-feira (2), no Rio de Janeiro. O evento retrata a participação de mulheres de todo o Brasil na luta pela igualdade de direitos dos filhos gays, lésbicas, travestis e transexuais, principalmente contra a homofobia. São 22 mulheres que resumem nas frases gravadas nas imagens as alegrias e dificuldades de ser mãe de um filho homossexual no país.Algumas dessas mães carregam histórias trágicas. A pernambucana Eleonora Pereira perdeu o filho, o produtor cultural José Ricardo, quando ele tinha apenas 24 anos, vítima da intolerância sexual. Espancado brutalmente por dois homens em Recife no dia 16 de outubro de 2010, veio a morrer dois dias depois. Encontrou no grupo “Mães pela Igualdade” uma causa que a conforta e a move na luta por direitos igualitários a cidadãos LGBTs. “Essa exposição quer mostrar para a sociedade que homossexual tem família. Homossexual não é aberração. Mãe de homossexual ama, cuida e sofre com as violências que seus filhos sofrem. O ‘Mães pela Igualdade’ é um coletivo de mulheres que dizem que seus filhos não estão sozinhos nessa luta. São mães que saíram do armário juntamente com seus filhos para lutar pelos direitos LGBTs, contra a LGBTfobia”, disse.O crime foi praticado na porta da casa da família. José Ricardo foi sequestrado por dois homens, segundo a investigação policial. Dentro do presídio, os assassinos confessaram para os colegas de cela que mataram um homossexual. A informação chegou a Eleonora – que fazia anteriormente trabalho com detentos em presídios – e à delegada. A discriminação foi a causa apontada para o homicídio no inquérito policial.
“Era meu amigo, meu confidente. Querido por todos. Através do meu trabalho com direitos humanos em presídios, acabei descobrindo que os assassinos o mataram pela questão sexual, por meu filho ser gay. Esse vazio que meu filho deixou tento preencher com a luta contra a violência, a homofobia, o preconceito e a discriminação. Meu filho não tinha maldade com ninguém, mas a maldade levou ele. A homofobia dói, machuca e mata”, declarou Eleonora.A paulista Lilian Arruda esteve presente ao lado do filho, o advogado Luís Arruda, quando foi vítima de uma ação homofóbica de um dono de bar que tentou expulsá-lo do estabelecimento ao vê-lo abraçado com outro homem. Apesar de admitir o medo de ver o filho sofrer, diz-se orgulhosa do homem que ele é. “No início tive preocupação com o preconceito, a violência que ele poderia enfrentar. Para mim era algo desconhecido. Mas vivendo o dia-a-dia, o que prevaleceu foi o amor e o enriquecimento para a minha vida”.A alagoana Dinalva de Oliveira encontrou em um primeiro momento dificuldades para entender a orientação sexual do filho, Otávio. Evangélica, afirma que conseguiu vencer o preconceito. Ela prega “o amor acima de tudo”. “Sou contra a violência. No início ficou difícil aceitar, até por eu ser evangélica, mas agora aceito numa boa. Nós que lemos a bíblia sabemos que o amor está acima de tudo. Se nós somos evangélicos e pregamos o amor, porque não aceitar nosso filhos gays? Esse é o amor de mãe. Eu amo demais o meu filho”, declarou.Dinalva ajudou a mãe do namorado do filho, católica fervorosa, a aceitar o relacionamento do casal. “A mãe do namorado do meu filho quando descobriu ficou muito agressiva. Eu ia à casa dela mas ela não me recebia. Ela dizia que era muito católica e eu respondia: e eu que sou nascida e criada em um berço evangélico? Ela acabou passando a entender”, relatou.Organizada pela ONG internacional AllOut, a exposição, segundo a diretora Flávia Abrantes, é mais um passo para o combate a homofobia no Brasil e a aprovação de leis que atuem neste objetivo.“O movimento é uma luta global para remover as barreiras legais e culturais que impedem as pessoas de viver abertamente, casar com quem elas amam. A campanha ‘Mães pela Igualdade’ é parte disso. O Brasil é campeão mundial de crimes homofóbicos. Nós precisávamos de uma campanha que elevasse a discussão para além do que já existia. A necessidade de uma legislação que criminalize a homofobia.As ‘Mães pelas Igualdade’ são mulheres comuns, não são mulheres famosas, mães que estão lutando pelos direitos dos filhos e dos filhos de outras mães. Mães que tiveram seus filhos assassinados em crimes que estão impunes. A campanha fala desse amor de mãe, o amor incondicional”, relatou.Expostas ao ar livre, as fotos seguem na Praça 15, no Centro do Rio, até o próximo dia 8 e depois seguem para outros locais da cidade até o final do mês das mães. A iniciativa é apoiada pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS) da Prefeitura do Rio. Um segurança ficará 24 horas por dia cuidando para que os painéis não sejam depredados.A partir do dia 9 segue em exposição no Leblon, na Praça Antero de Quental. A partir do dia 16, as fotos ficam expostas na Praça Saens Pena, na Tijuca e, por fim, a partir do dia 23, no Centro Cultural AfroReggae, em Vigário Geral. (Com informações de Felipe Martins, UOL/RJ)
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